terça-feira, 8 de abril de 2014

"Pernas, para que te quero?" - Trilhas da Ilha Grande.

Em 2010, apresentei como Trabalho de conclusão do curso de Turismo, um Estudo de Caso sobre as trilhas turísticas da Ilha Grande, como um interessante caminho para a interpretação e a educação ambiental. Com isso, conheci por terra, cerca de 2/3 da Ilha Grande, localidades entre a Lagoa Azul (norte), a Vila do Abraão (nordeste) e Provetá e Aventureiro (sudoeste), que já havia conhecido em 1994, aos 9 anos de idade. Ainda não dei a volta completa à Ilha, entretanto, esse é um sonho que espero realizar em breve. Guias e caminhantes fazem a volta completa na Ilha em cerca de 7 dias, mas dizem que, para aproveitar bem a paisagem e a experiência e conhecer as pessoas do lugar (o que demanda tempo), recomenda-se fazer a volta em 10 dias.

 * Imagem cedida pelo autor José Bernardo para uso nessa página. Para uso/reprodução, entre em contato com o autor (jbtravessia@yahoo.com.br). Todos os direitos reservados.

Para começar, é bom falar um pouco a respeito da Ilha Grande. Sim, é um lugar incrível, em que o verde sobressalente da mata mergulha no verde-esmeralda do mar, formando paisagens ímpares! A Ilha de cerca de 193 km² localiza-se no município de Angra dos Reis, no sul do Estado do Rio de Janeiro, na região da Costa Verde.  A distância de Angra dos Reis para o município do Rio de Janeiro é de 149,5 km; para o município de São Paulo, é de 353,09 km; para Santos, 387,48 km; para Paraty, 88,62 km; e para Belo Horizonte, é de 491,03 km.

A Ilha conta parte da história do Estado e (por quê não?) do próprio país, tendo sido marcada como um “paraíso” de descanso da família imperial, campo de batalha de piratas e corsários, indígenas da Nação Tupinambá liderada pelo índio Cunhambebe e fazendeiros, como um porto para o tráfico de escravos negros, mesmo depois da abolição da escravatura, bem como foi sede de um Lazareto e de um Presídio para presos de alta periculosidade e presos políticos, o Centro Correcional de Dois Rios.

Mas voltando às “trilhas primárias” do texto, a Ilha Grande dispõe de 16 trilhas oficialmente traçadas, que ligam uma praia à outra, a igrejas e cemitérios antigos, algumas comunidades locais que oferecem hospedagem e refeições e que, em alguns casos, são um atrativo à parte, que não pode passar em branco. É um desperdício deixar passar despercebida a oportunidade de conversar com alguns moradores. Podem-se encontrar verdadeiras pérolas vivas olhando para esse lado da Ilha Grande, ao invés de vê-la  como mero “recipiente de belíssimas paisagens”. De certo, são paisagens inesquecíveis, mas já pensou na riqueza que se pode conceder à experiência com algumas conversas regadas a cafezinho com fruta-pão, ou inhame, ou mesmo biscoitinhos?

Fruta-pão na casa do Seu Nilo. Foto: Acervo pessoal.

As 16 trilhas oficiais são enumeradas de T1 a T16, são elas: Circuito do Abraão (T1), Aqueduto – Saco do Céu (T2), Saco do Céu – Freguesia de Santana (T3), Freguesia de Santana – Bananal (T4), Bananal – Sítio Forte (T5), Sítio Forte – Praia Grande de Araçatiba (T6), Praia Grande de Araçatiba – Gruta de Acaiá (T7), Praia Grande de Araçatiba – Provetá (T8), Provetá – Aventureiro (T9), Abraão – Praia dos Mangues/Pouso (T10), Pouso – Lopes Mendes (T11), Pouso – Farol dos Castelhanos (T12), Abraão – Pico do Papagaio (T13), Abraão – Dois Rios (T14), Dois Rios – Caxadaço (T15) e Dois Rios – Parnaioca (T16). Elas circundam quase totalmente a Ilha, exceto pelo trecho que passa pela Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul (RBEPS), entre as praias do Aventureiro e da Parnaioca, ao sul.

Em algumas trilhas, é altamente recomendável a presença de um guia local, embora isso não seja uma regra, uma obrigação. Mas é o guia que sabe os melhores caminhos, que conhece as trilhas corretas, e quanto maior a dificuldade da trilha, menos gente passa por ela, o que pode confundir até caminhantes experientes, porque a natureza sempre volta ao seu lugar.

T1: Circuito do Abraão
Essa é a trilha que considero a mais leve da Ilha (1 a 2 horas num percurso de 1700 a 1900 metros), em formato circular, e com parte do trecho plano, o que possibilita o acesso à experiência, em alguns trechos, inclusive a pessoas com dificuldades de locomoção. E, mesmo que seja uma trilha que considero fácil, ainda assim a experiência é muito rica. No percurso, encontramos as ruínas do antigo Lazareto; o Aqueduto, de 11 metros de altura, 140 metros de comprimento e 26 arcos, erguido em 1893, para o abastecimento de água do Lazareto; o Mirante do Abraão; o Poção, que é uma piscina natural; e a Praia Preta, caracterizada pelas areias monazíticas (de coloração preta), tida por suas propriedades medicinais.


Fotos: 1) Praia Preta. 2) Vista da trilha T1 (Acervo pessoal).

T2: Aqueduto – Saco do Céu
Trilha de nível médio, duração de 3h a 3h30, percurso de 7200 metros. Em seu decorrer, encontram-se a Cachoeira da Feiticeira (muito procurada para a prática de rapel, por seus 15 metros de altura), mangues, as Praias da Feiticeira, Iguaçu, Camiranga, Perequê, de Fora e o Saco do Céu. Suas águas são tranquilas por se localizar na baía, de frente para a costa de Angra dos Reis.


Fotos: 1) Aqueduto. 2) Cachoeira da Feiticeira. 3) Praia da Feiticeira (Acervo pessoal)

T3: Saco do Céu – Freguesia de Santana
Com nível de leve a médio, duração de 2h, percurso de 3900 metros. Suas atrações são: Praias da Guaxuma, do Funil (a menor praia da Ilha Grande, com 6 metros de faixa de areia), Japariz, Freguesia de Santana, onde há uma antiga igreja, cemitério, ruínas de construções. Há alguns bares e restaurantes.

 Fotos: 1) Igreja na Freguesia de Santana. 2) Praia do Funil.  (Acervo pessoal).

T4: Freguesia de Santana – Bananal
Nível médio, duração de 1h a 1h30, percurso de 2800 metros. Atrações encontradas no percurso dessa trilha: Praia da Baleia, Lagoa Azul (muito procurada para a prática de snorkeling), Ilha Comprida, Grumixama, Praia de Baixo, Ponta do Bananal, Bananal Pequeno, Praia do Bananal e Mirante do Bananal.



Foto: 1) Praia de Baixo (Acervo pessoal). 2) Praia do Bananal (Tom Oliveira).

T5: Bananal – Sítio Forte
Trilha de nível médio, duração de 1h30, percurso de 4900 metros. No decorrer da trilha, há cultivo de mexilhões, uma grande figueira branca , mangue, ruínas, mirantes, Praias de Matariz, Jaconema, Passaterra, Maguariqueçaba e Sítio Forte.




Fotos: 1) Praia de Maguariqueçaba. 2) Praia de Matariz. 3) Praia de Passaterra. 4) Sítio Forte (Bernardo José).

T6: Sítio Forte – Praia Grande de Araçatiba
Trilha de nível médio, duração de 2 a 3 horas, percurso de 6000 metros. Atrações encontradas são Praia da Tapera, Ubatubinha, Praia da Longa, a piscina natural da Lagoa Verde e a Praia Grande de Araçatiba.




Fotos: 1 e 2) Araçatiba. 3) Ubatubinha. 4) Tapera. (Bernardo José).

T7: Praia Grande de Araçatiba – Gruta do Acaiá
Trilha de nível médio a pesado, duração de 2h30 a 3h, percurso de 6000 metros. Praias encontradas no caminho são Araçatibinha, Itaguaçu e Praia Vermelha. A Gruta do Acaiá fica dentro de uma propriedade privada e sua entrada se faz mediante pagamento de uma taxa que, até janeiro desse ano, custava R$ 10,00. Ela é conhecida por ser uma gruta submersa, que é espetacular com o reflexo da luz na água.



Fotos: 1) Gruta do Acaiá. 2) Itaguaçu. 3) Praia Vermelha (Bernardo José).

T8: Praia Grande de Araçatiba – Provetá
Trilha de nível pesado, duração de 1h40 a 2 horas, num percurso de 4700 metros. No caminho, são vistos mirantes, riachos e a Praia de Provetá, onde há uma vila de pescadores evangélica, que está disposta em torno da Igreja. Há bares, padarias e alguma infraestrutura de hospedagem.


 Fonte: 1) Provetá vista da trilha para o Aventureiro. 2) Pescadores no cais de Provetá (Bernardo José).

T9: Provetá – Aventureiro
Trilha de nível pesado, duração de 3 horas, percurso de 3500 metros. A trilha leva à última comunidade tradicional de caiçaras que ainda se mantém na Ilha Grande, cuja economia gira em torno do Turismo e de algumas atividades na roça, nas casas de farinha e na pesca. Lá, você pode conhecer o famoso Coqueiro Deitado, o Mirante do Sundara, a Pedra do Espia, a Igrejinha, a Praia do Aventureiro e a Praia do Demo, ótima para a prática de surfe. No início do ano, ocorre a Festa de Santa Cruz, conhecida entre os turistas como Festa da Lua. Em alguns momentos os jovens fazem luaus na areia, com violão e outros instrumentos. O acesso à Praia do Sul e do Leste é proibida por ser parte da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul.



Fotos: 1) Coqueiro Deitado, ao amanhecer. 2) Vista do Mirante da Sundara. 3) Praia do Aventureiro, Igreja de Santa Cruz ao fundo. (Acervo pessoal).

T10: Abraão – Praia dos Mangues/Pouso
Trilha de nível médio, duração de 2h30, percurso de 3900 metros. Atrações  são a Praia da Júlia, Praia de Palmas, Praia do Mangue e Praia do Pouso. Encontram-se, no caminho, mirantes, riachos, mangues e ruínas de construções antigas. Há bares em alguns pontos.


Fotos: 1) Praia do Pouso. 2) Praia dos Mangues. (Acervo pessoal)

T11: Pouso – Lopes Mendes
Trilha de nível leve, duração de 30 minutos e percurso de 900 a 1000 metros. Essa trilha é feita até por quem vai do Abraão até o Pouso de barco, para se chegar a Lopes Mendes, que passeia pelos rankings como uma das mais bonitas praias do Brasil e do mundo. Essa praia é rota de surfistas, em busca de ondas para sua prática, por ficar em área de mar aberto. No final da praia, estão uma antiga boia  que virou obra de arte nas mãos do artista Sylvio Cavalheiro, e uma Igrejinha.




  Fotos: 1) Capela em Lopes Mendes. 2) Obra de Sylvio Cavalheiro. 3) Praia de Lopes Mendes (final). Acervo pessoal.

T12: Pouso – Farol dos Castelhanos
Trilha de nível pesado, duração de 5 a 6 horas, percurso de 11000 metros. As atrações  encontradas no caminho são a Praia da Aroeira, a Praia dos Castelhanos, a Piscina dos Castelhanos e o Farol dos Castelhanos, mas para visitar o Farol é necessário autorização prévia, por se tratar de propriedade militar. O Farol ainda está em funcionamento.



Fotos: 1) Praia dos Castelhanos. 2) Farol dos Castelhanos - heliponto. 3) Farol dos Castelhanos (interior). Acervo pessoal.

T13: Abraão – Pico do Papagaio
Trilha de nível pesado, com duração de 7 horas (entre ida e volta), com distância percorrida (ida e volta) de 11800 metros. O Pico do Papagaio não é o pico culminante da Ilha Grande, com seus 958 metros de altitude, mas se tem uma vista panorâmica de toda a Ilha, além da Restinga de Marambaia e até de Ilhabela (SP) quando o tempo está sem nuvens. É recomendável caminhar nessa trilha com a companhia de um guia local. Encontram-se no caminho animais silvestres, alguns riachos e uma visão sensacional da Mata Atlântica.


 Fotos: 1) Vista do Pico do Papagaio. 2) Papagaio visto de baixo. 3) Início da trilha T13. (Acervo pessoal).

T14: Abraão – Dois Rios
Trilha de nível pesado, duração de 5h20 (entre ida e volta) em um percurso de 16600 metros (entre ida e volta). No caminho, encontram-se as atrações: Mirante da Curva da Morte, Piscina dos Soldados, ruínas do Presídio e do Centro Correcional de Dois Rios, Capela Nossa Senhora do Bom Despacho, Ecomuseu. Há bares, e são vendidos em algumas casas sacolés maravilhosos e refrescantes (os de coco e de amendoim são meus favoritos!).



Fotos: 1) Piscina dos Soldados. 2)  Praia de Dois Rios. 3) Entrada da Vila de Dois Rios (Acervo pessoal).

T15: Dois Rios – Caxadaço
Trilha de nível médio, com duração de 4 horas (entre ida e volta), num percurso de 6000 metros, entre ida e volta. Há, no caminho, mirantes, riachos, ruínas, o Caminho das Pedras, construído por negros escravizados, traficados em navios tumbeiros, que lá atracavam por ser uma praia escondida. Cuidado ao andar por esse caminho, pois as pedras são escorregadias e podem ocasionar quedas. Sou experiência disso!

Foto: Praia do Caxadaço (Acervo pessoal).

T16: Dois Rios – Parnaioca
Trilha de nível médio, duração de 6 horas (ida e volta) em um percurso de 15500 metros (ida e volta).  As atrações são a Toca das Cinzas (onde eram escondidos os negros escravizados, a Igreja Sagrado Coração de Jesus, a Cachoeira da Parnaioca e a Praia da Parnaioca. Há também ruínas, um cemitério centenário, e campings.

Foto: Praia da Parnaioca (Bernardo José)

Se você vai fazer trilha na Ilha Grande, é muito importante levar dinheiro vivo, porque há estabelecimentos comerciais que não aceitam cartão, principalmente fora da Vila do Abraão ("capital da Ilha Grande"), e não há caixas eletrônicos nem bancos. 

Outro detalhe, para escolher um guia de turismo, tenha referências à mão, para não ter surpresas negativas e frustrar sua experiência. Eu sempre recomendo o João Pontes, que, desde minha pesquisa em 2010, deu-me apoio total, é muito bem informado, educado experiente e ama o que faz. Sua página no facebook é: http://facebook.com/joaopereirapontes . 

Fotos: 1) Guia João Pontes (Acervo pessoal). 2) Livro "Caminhos e Trilhas da Ilha Grande", de Bernardo.

E, para quem caminha sem um guia de turismo, eu recomendo o livro "Caminhos e Trilhas da Ilha Grande", do autor e amigo José Bernardo, que traz um pouco da história, imagens, e roteiros para quem vai dar  a volta na Ilha ou fazer algumas das trilhas apenas, além de descrever os cuidados que devem ser tomados trilha a trilha, o que é muito importante. Não é apenas um livro de prateleira, mas um "livro de mochila", para levar nas andanças até.

* Fontes:
SILVA, Juliana Fernandes da. Trilhas Turísticas da Ilha Grande: um caminho para a interpretação e a educação ambiental. (meu TCC), 2010.
BERNARDO, José. Super Mapa da Ilha Grande, 2013.






2 comentários:

Unknown disse...

O nome da Capela na Praia de Lopes Mendes: Capela N. Sra. de Santana

Emerich disse...

Boa noite!gostaria de saber onde compro esse livro?